quarta-feira, 2 de novembro de 2016

AHHH, O NÃ!!

Ahhh, o Nãããã!!




Eu esbarrei com o Nã, com 1 ano de idade, ele me fez chegar na casa, onde passei a morar, e me apresentou a mãe dele, que seria a minha mãe, durante a minha vida toda até sua morte aos 87 anos.
O Nã passou a ser Nã, quando eu comecei a falar e não sabia dizer Fernando, e foi Nã até a morte de nossa mãe. O Nã tem 17 anos mais que eu, ele sempre se sentiu um pouco meu pai, afinal ele me levou pra casa, e ajudou minha mãe, na criação, ele me mimou, acredito que até me amou, fui sempre a Soninha. Fui crescendo, fui para a escola, e ele se casou quando eu tinha 7 anos, mudou-se para outra cidade e vinha nos visitar no Natal, passava férias, olhava meus cadernos da primeira série com muito orgulho; me lembro quando aprendi a ler e uma das primeiras letras que juntei era Dostoievski, li na capa de um livro dele, nossa..., como ele ficou orgulhoso. Ele era professor, me incentivava na escola, ahh  me mandava lindos postais , eu ficava esperando até o correio passar . Ele se casou e teve 3 filhos .
Os anos se passaram, e ele sempre foi presente na minha vida. Eu me casei, e ele me levou até ao altar, choveu muito naquele dia, ele tinha uma Dodge Dart verde metálico, que me levou até a igreja, mas custou a dar partida no dia do casamento, foi até engraçado. Tive também 3 filhos, ele foi o padrinho do terceiro. Ele tinha uma família e eu também, era atencioso com meus filhos, me ajudou em várias situações. E eu sempre fui atenciosa e muito carinhosa com seus filhos, na verdade seus filhos vieram bem antes dos meus, e eu era apaixonada por eles .
Durante toda minha vida, eu tive uma gratidão e um amor muito grande pelo Nã, ele era o Fernando de toda a família, mas Nã, era só meu. Como toda família, tudo aconteceu, vida, morte, felicidade, tristeza, e a minha certeza sempre foi o amor que sentia por ele.
Por vezes, quando vinha para visitar meus pais, eu ficava toda eufórica e feliz, o esperava com o doce que ele gostava, comidinhas que lhe agradavam, e por muitas vezes, me decepcionei, ele não ía até minha casa.
Então era quando eu corria para casa dos meus pais para vê lo, e assim foi durante anos, e eu boba não percebia que aquele não era mais o meu Nã.
O meu amor era muito maior, e não me fazia enxergar como a vida dele tinha mudado, ele prosperou, graças ao seu esforço, me ajudou bastante, e por este fato, eu achava que era tudo por amor.
Mas, mais tarde, com o falecimento da nossa mãe, exatamente no dia do velório, comecei então a perceber, que aquilo tudo era uma máscara que ali se rompia, que não era um sentimento tão verdadeiro assim, que era para agradar a minha mãe que ele mantinha essa imagem de protetor.
Comecei então a notar a diferença de tratamento para comigo e meus filhos, e resolvi que eu precisava ser eu mesma , e fazer a minha própria estória; e que, se aceitassem as minha imposições de querer, também prosperar, e romper aquele lacre, que me fazia sentir inferior, me sentir sempre a coitada da família, então era porque realmente era amor.
B I N G O... não era.
Fui julgada, condenada e a minha sentença foi perder o Nã, que já estava perdido a muito tempo, só a minha fantasia, me cegava.
Aprendi então que nada que não é verdadeiro é para sempre ; o falso amor não se sustenta.
E ai me vi num tamanho conflito, porque , o que fazer com o meu amor verdadeiro??
A amor verdadeiro não julga, o amor verdadeiro perdoa, o amor verdadeiro entende.
Hoje guardei numa caixinha de ouro, os 47 anos, que convivi com o Nã.
Hoje tenho 54, e aprendi que tenho muito valor e sou feliz!!